Para Catharina.
Num reino muito distante atrás das serras vivia Pérola, uma menina que entendia das coisas públicas e estava a par, apesar de pequena, das questões do seu reino.
Pela manhã cuidava das flores e alimentava os pequenos animais, mesmo antes da escola. À tarde, depois das tarefas escolares, ajudava a bordar a camisa de batizado de algum recém-nascido, presente do reino, para cada novo súdito, que se tornara uma tradição; ou participava ao lado do pai e dos ministros, das reuniões, tomando decisão para o equilíbrio do reino. Às vezes praticava equitação, e exercitava esse esporte para tomar parte na próxima competição. Também gostava com a rainha, sua mãe, de visitar as pessoas, distribuir as frutas do pomar real, e como toda menina, brincar com as crianças, apostando corrida, escalando árvores, ou nadando no rio. Seus pais lhe davam liberdade. No reino da Harmônia todas as crianças iam à escola; os camponeses tinham seguro saúde e viviam bem, produzindo para si e o comércio. O excesso era comprado pelo reino para distribuição gratuita. A terra vivia em harmonia com a natureza, as praças eram bem arborizadas e decoradas de árvores frutíferas, e os frutos, cachos de uva, bananas, ou melões acessíveis a qualquer um, para um lanche ligeiro. Os pássaros cantavam enfeitando o ambiente com melodias. Os riachos corriam por sobre as pedras, podia-se beber com a mão ou recolher a água em cântaros para cozinhar. Assim vivia Harmônia.
Mas como tudo que é melhor, é cobiçado, em toda parte, um corvo sobrevoou aquela paisagem linda e foi cochichar com sua patroa. E a bruxa Maléfica o mais que depressa transformou a menina em uma pérola e a lançou no meio do mar pra ser engolida por algum bicho marinho. Ao presenciar isso, os cabelos do rei embranqueceram, os pássaros silenciaram, a cada dia murchava uma flor do jardim, as vacas deixaram de dar leite, os igarapés baixaram de volume, as crianças já não iam aos parques brincar, nem no rio nadar. A tristeza era geral. O castelo hasteava uma bandeira anunciando essa desolação.
Surgiu o Edito de que o rei oferecia uma sacola de ouro a quem trouxesse Pérola de volta. Era uma restiazinha de esperança. Muitos aventureiros acudiram ao reino, mergulhando sem sucesso. Onde estaria Pérola, se perguntavam todos, ungidos em oração, em preces ao Salvador.
Pérola caíra no fundo do mar e fora recolhida felizmente por uma ostra bondosa e escondida no meio de um labirinto de corais. Mas ninguém sabia disso. Que destino triste o de pérola, podemos pensar! Assim pensava também a bruxa Maléfica, vendo tudo murchar, e gargalhando distraída colidiu, com sua vassoura contra um rochedo, caiu espatifando-se nas pedras do desfiladeiro. Assim quebrado o feitiço. Pérola podia ser encontrada. Nathan, filho de um camponês que frequentava a mesma escola e mergulhava com frequência viu os corais se abrirem e a ostra bondosa depositar Pérola em suas mãos. Ao devolvê-la ao rei, a menina retomou sua figura normal. Agradecidos, o rei e a rainha caíram de joelhos diante de Nathan. Este beijou-lhes as mãos, mas recusou o ouro. No lugar dele pediu consentimento para continuar junto a Pérola. Fazia questão de brincar com sua querida amiga, escalando as árvores da floresta ou nadando juntos no rio. O reino voltou à prosperidade. E os dois cresceram juntos felizes para sempre.