Categories
Gratidão

Os dois dragões

Para Clarissa Emília e Jairo Benjamin

Havia a lenda de que em Zamokrácia, Zamokracia ou Zamokraciá, viviam dois dragões: um irritado e outro bondoso. O raivento aterrorizava a população, queimava as casas de madeira, por isso o povo começou a construir habitações mais sólidas de tijolo e pedra. O dragão provocava incêndios na floresta, chamuscava o pelo dos animais e o cabelo das pessoas. O corpo de bombeiro vivia pra cima e pra baixo apagando focos de fogo. Todas as seguradoras contra incêndio da época faliram.

Quanto ao dragão bondoso, por outro lado, a criançada se divertia escalando suas escamas e escorregando pelo seu pescoço. Ele até já assinara um convênio com a escola para colônia de férias.

Assim levava as crianças ao parque, mergulhava nos lagos com a meninada nas costas, ia a excursões no campo e no litoral, e no tempo das aulas servia de transporte escolar. Os pais confiavam nele, pois a meninada se sentia protegida nas brincadeiras.

Aconteceu que um dia o vulcão que morava perto da caverna do dragão raivoso entrou em erupção e o dragão quis visitar seu ídolo e quando ia escorregando na lava incandescente e se precipitando na cratera do vulcão, foi salvo pelo dragão bondoso. Mais que surpreso ele ficou grato com o ato generoso do outro e resolveu mudar de atitude. Começou fazendo um curso de inteligência emocional, inscreveu-se no concurso para estivador e venceu. Tinha muita força. Num zás-traz pegava um container e o colocava direitinho no navio. Agora era solícito. Nas horas vagas ajudava os lenhadores com as toras de madeira, acendia o fogão dos moradores. Participava das festividades locais, da festa junina, com chapéu de palha e traje típico, soprava os balões, para vê-los coloridos enfeitando o céu. Mas do que ele gostava mesmo era de acender a fogueira de São João.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *