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Perseverança

A cerejeira mágica

Para a Débora.

Num reino muito, muito distante em uma época muito remota, viviam Shen-té e Wang-liu. Shen-té era a princesa única do imperador e Wang-Liu filho da sua camareira. Portanto, Wang-liu não tinha acesso ao palácio. Naquele tempo a hierarquia era rigorosa. Cada qual ficava na sua. Portanto Shen-té não tinha com quem brincar, por isso se esgueirava, ou seja, escapulia da vigilância paterna e de sua bá, para brincar com Wang-Liu.

Shen-té
Wang-liu

Na verdade, eles se divertiam com o jogo de tabuleiro – Sugoroku – nascido na Pérsia e transmitido a China e mais tarde ao reino nipônico. Esse jogo é conhecido no ocidente com o nome de gamão. Um dia a atenção dos dois é despertada pelos arautos do imperador anunciando o mais novo edito do rei. O edito prometia o prêmio a quem fosse capaz de trazer de volta as abelhas. Sem abelhas não havia mais a polinização. As árvores  davam poucos frutos. A colheita de cereais minguava, faltava o mel para adoçar o chá e as crianças ficavam desnutridas. A fome começava a tirar a força dos trabalhadores do campo, produzia-se muito pouco. A terra minguava entregue às moscas que beliscavam cada vez mais os viventes. A princesa, se compadecendo do sofrimento do povo com a fome, dividia o próprio alimento entre as crianças que acudiam toda manhã à sua generosidade.

Presenciando essa aflição e a vendo sua querida amiga emagrecer dia a dia, Wang-Liu tomou uma decisão. Precisava trazer as abelhas de volta! Dar esperanças à sua amada de que as coisas mudariam! Assim penetrou, a muito custo os aposentos da princesa,  pegou uma pena de pavão, como era costume na época, mergulhou-a na tinta e escreveu a Shen-té:

– Vou trazer as abelhas de volta. Prometo!

Muito tempo se passou. Wang-liu cogitando como poderia trazer as abelhas de volta. Os sábios do reino elocubravam em vão.

Um dia Wang-Liu repousava sob uma cerejeira quando uma abelha rainha zumbiu ao seu ouvido:

– Wang-Liu, plante mil cerejeiras ao redor do palácio que as abelhas voltarão.

      O menino chinês não sabia se tinha sido sonho ou realidade o que escutara, mas ficou com a ideia na cabeça. Mas como ele poderia plantar mil cerejeiras? Se não tinha recursos.

      Vindo de casa para o palácio, encontrou uma algazarra de beija-flor que trazia no bico as sementes de cerejeiras. Wang-Liu pediu que eles jogassem as sementes ao redor do palácio. Logo que chovesse, elas plantas germinariam. Wang-liu estava confiante. E de fato, na estação seguinte apareceram os primeiros brotos que foram regados cuidadosamente por Wang-Liu e sua mãe, a quem confiara o segredo da cerejeira mágica sob a qual repousara. Passados dois verões, as árvores começaram a florescer e a atrair aos poucos os enxames de abelhas.

Enxame de abelhas nas árvores do palácio

Todos do reino se surpreendiam com a linda floração. De onde apareceu tanta árvore? Os namorados sentavam-se sob as plantas, as famílias levavam as crianças para se refrescarem sob sua sombra. Wang-liu e Shen-té não cabiam em si de contentes. A terra que antes era crestada estava agora sombreada, estimulava as nascentes, os olhos d´água e em pouco tempo corriam os igarapés, garantindo um lindo gramado verde e luxuriante. Em um ano as colmeias ficaram cheias de mel.  O mel era tanto que o reino se recuperou e prosperou. Wang-liu ficou rico em pouco tempo e com o título de Gão-Vizir que recebera do imperador, contraiu núpcias com a bela Shen-té.

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A pequena Lola e o gênio

Era natal. A cidade estava iluminada. Porém na casa de Lola não havia presentes nem ceia. O pai estava desempregado, a mãe, doente. Mas como bons cristãos, a família homenageou o menino Deus com uma prece de gratidão e pedido de dias melhores.

Lolita, os pais a chamavam assim, era uma criança feliz, antes da doença  de sua mãe.

Um dia, ela estava colhendo ervas, cidreira, malvarisco ou mastruço para o chá de sua mãe quando ouviu um latido pros lados do rio. Era um pequeno cão agarrado a um tufo de capim, prestes a despencar da ribanceira. Mais que depressa a criança o salvou, agarrando-o contra si. Subitamente aparece um gênio: Faça três pedidos. A criança não teve dúvida. Pediu a recuperação de sua mãe, depois um emprego bom para seu pai. Também gostaria de estudar na melhor escola da cidade. E assim foi feito. Logo que chegou em casa viu a mãe alegre e curada e seu pai dizendo, com alegria: telefonaram da melhor empresa da cidade, me oferecendo um emprego. Tinha deixado meu curriculum lá.

E Lolita começou a frequentar sua escola, mas relaxava, chegava atrasada, rabiscava as lições, faltava ao colégio. Encantada com a vida de conforto, se distraía com os jogos de computador, dormia tarde, faltava ao colégio e ia perdendo amigos. Era obrigada a viver sozinha.

Deveria ter pedido amigos ao gênio, pensava, quando de repente surge o gênio: – Lolita, você deverá ganhá-los por si mesma, com seu comportamento. Assim, incentivada pelo gênio, a menina mudou de atitude. Passou a ser atenciosa com os professores, prestava atenção as aulas, deixou de chegar atrasada no colégio, inscreveu-se no grupo de teatro, de música, de artes, colaborou nos eventos e passou a tirar notas boas. Era simpática com os colegas, prestativa e os amigos começaram a se aproximar dela: queriam fazer estudos de grupo. As meninas pediam pra dormir na sua casa, fizeram até uma festa do pijama. Enfim a amizade renasceu.